Acho que não existem povos com uma relação tão próxima com o fenómeno do automobilismo e corridas como Portugal.
Fui assistir à 1.ª Etapa do Lisboa-Dakar deste ano, junto à Comporta (Troia). Saímos no ferry às 6h30, que já seguiam completamente cheios. Quando chegámos ao local determinado para assistirmos à prova, era impressionante a quantidade de gente que por lá acampou e conviveu durante essa noite fria de Inverno. Quando foram passando as primeiras motas e carros, a emoção era muito grande, com as pessoas verdadeiramente a vibrar com a passagem de máquinas tão poderosas. Quando os pilotos precisavam de ajuda (um atascanço, um problema mecânico) ou mesmo ânimo, as pessoas estavam lá para ajudar. Corridas, um pinhal, umas cervejas e um petisco é uma combinação irresistível para qualquer um.
Outra coisa que reparei foi o civismo no cumprimento de regras de segurança. Apesar dos milhares de pessoas que foram assistir à prova nessa 1.ª Etapa (estima-se em 600 mil!!!), não vi um acto de irresponsabilidade que pusesse em causa a segurança das pessoas ou dos pilotos.
A segurança foi aliás um dos motivos porque em outra modalidade o Rallye de Portugal (que chegou a ser considerado pela FIA o Melhor Rallye do Mundo) deixou de contar para o Campeonato do Mundo, além de outros motivos mais de ordem política que razões objectivas. Mas o empenho e participação em massa do público, juntando à espectacularidade dos troços (especialmente Sintra e Arganil) é que davam magia ao nosso Rallye. Éramos doidos, mas a nossa loucura é que fazia do nosso Rallye tão especial.
Este vídeo do YouTube é exemplificativo deste espírito. Começa com umas intervenções de grandes pilotos da época como Markku Alen, Henri Toivonen, Juha Kankkunen e Timo Salonen, que nos anos 80 eram os pilotos oficiais de marcas como a Audi, Lancia ou Peugeot com as máquinas brutais do Grupo B. Depois continua com imagens impressionantes ao som de Metallica... Grande vídeo!
Este ano organizámos de novo o Rallye a contar para o Mundial. Um sucesso de organização, de poupança de meios, de participação de público... Mas os anos de ouro do Rallye não voltam mais.
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