segunda-feira, 6 de agosto de 2007

O Estado do Circo - Parte I: Na pista

Como está no meu perfil, sou um adepto de Fórmula 1 desde a minha meninice e acompanho tanto as corridas e treinos, como as situações de bastidores que acompanham este desporto/espectáculo.

Esta época começou a despertar um interesse particular pelo aparecimento do "prodígio" Lewis Hamilton. A Fórmula 1 tem sede de heróis e com este miúdo surge o Messias que todos esperavam. Rapaz humilde, talentosíssimo, faz parte das Junior Teams da McLaren em categorias inferiores desde tenra idade. Teve a sorte de entrar directamente para a equipa mais forte do campeonato, o que fez com que ele tivesse resultados de monta logo desde início. Convém referir que nenhum dos outros prodígios que passaram pela F1 ao longo destes anos tiveram a sorte de ter a sua primeira oportunidade num carro de topo como teve Hamilton.
Esta seria uma temporada de adaptação do piloto à modalidade e à equipa, até porque decididamente o 1.º piloto seria o não menos talentoso e o mais novo campeão e bi-campeão do mundo da F1, Fernando Alonso.

Hamilton foi sempre consistente e rápido em todas as corridas. Não falhou uma única vez. Também não mostrou nenhuma audácia numa ultrapassagem nem numa recuperação. Fica a sensação que se ele tivesse um lugar numa equipa de 2.ª Linha, como a BMW, Renault ou Toyota ele seria um vulgaríssimo piloto de meio de pelotão.
O que é certo é que ele ombreou com os candidatos ao título, tornou-se ele próprio candidato ao título, empolgando uma legião de fans (o que é natural), assim como o seu patrão na equipa McLaren, Ron Dennis (o que não é tão natural).

Alonso foi contratado a peso de ouro para trazer o n.º 1 de campeão conquistado na Renault para a McLaren. Era unanimemente considerado o 1.º Piloto na equipa, ou seja, em caso de "desempate", e desde que a verdade desportiva numa corrida não fosse maltratada, seria sempre favorecido pela equipa em relação ao seu colega. Aqui surge um problema, já que enquanto Alonso era o consagrado, Hamilton era o fenómeno.

Pessoalmente, acho Alonso um grande piloto. Tão regular e rápido como Hamilton, é capaz de ser audaz quando necessita, equilibrando a correlação de forças contra tudo e todos. Foi o que aconteceu nas últimas corridas, onde o espanhol arriscou mais e venceu, aproximando-se perigosamente da liderança do campeonato ocupada pelo seu colega de equipa. E finalmente Hamilton teve um azar (no G.P. da Europa, em Nurburgring - Alemanha), o que o afastou do pódio pela 1.ª vez na sua carreira(!!!)

É este o ponto da situação desportivo quando se chega à Hungria, neste fim de semana: Hamilton - O Fenómeno, o escolhido do patrão da equipa, o favorito dos fans, o estreante que lidera o campeonato, o piloto que "de pantufas" desiquilibrou a correlação de poder no interior da equipa, e do outro lado Alonso - O Bi-Campeão, o mega-contratado, o homem que passa de líder incontestado no interior da equipa para algo indefinido, mas que à sua própria custa tenta recuperar o seu estatuto. Como se veio a verificar depois, nos treinos, parecia que para a equipa (ou parte dela) ele tinha mesmo recuperado o posto de n.º 1 (como aliás está no seu carro).

A pista húngara é muito estreita e sinuosa, provocando falta de ultrapassagens e emoção e consequentemente excesso de sono. Devido a estas características, a Pole-Position é meia vitória. Nas sessões de treinos livres, Hamilton mostrou-se sempre mais rápido, mas nos treinos cronometrados, Alonso arrancou a pole-position. O problema é que foi usada manha para que Hamilton não tivesse tido a possibilidade para arrancar mais cedo das boxes e tirar um tempo que pudesse destronar Alonso, com o carro deste estacionado na boxe impedindo o outro de sair. No entanto, e posteriormente a este fim de semana, veio a saber-se que Hamilton desrespeitou seis vezes (!!!) ordens das equipas para que deixasse passar Alonso... Amor com amor se paga.
Alonso ficou com a pole, Hamilton em 2.º, até que surge a organização e a FIA, punindo Alonso (relegando-o para o 6.º Lugar da grelha) e a própria McLaren, não havendo pontos para aquela equipa.

Aqui entram os meus considerandos. Se o Alonso não tirou o carro mal colocado daquele sítio, e arrancou quando lhe deram ordem superior, é porque ele pode ter sido conivente com a sacanice, mas não responsável. Em última análise, quem provocou aquilo foi a própria McLaren. Além do mais, o prejudicado foi Hamilton, que é assalariado da (hum, deixa ver se me lembro... ah!) da McLaren. Ou seja, a relação prejuízo/benefício ficou-se no interior da mesma equipa! Então, para quê puni-la, ainda por cima desta forma? Depois, com que critério se manda um piloto para o 6.º Lugar? Não há responsabilidade (para mim) do piloto. Ele apenas cumpriu ordens superiores.

Resultado: Hamilton ganhou (está cada vez mais próximo do título), Alonso continua em 2.º Lugar do Campeonato, mais longe mas com hipóteses e na McLaren descobre-se que ou ninguém manda lá dentro ou anda tudo doido. Pior: Acaba por perder os pontos conquistados com esta corrida.


O Organismo que garante os valores desportivos na Fórmula 1 é a FIA. Ora a FIA, ao arrepio de qualquer regulamento decidiu as coisas desta forma, prejudicando um piloto (discutível) e uma equipa, isso então sem lógica nenhuma. Aliás, esta decisão só terá motivo se contextualizarmos o que se passa na Secretaria entre a McLaren, Ferrari, e uns engenheiros de ambas as Equipas metidos ao barulho...

Perceberam isto? Não? Então não percam a Parte II d'O Estado do Circo - Os Bastidores, porque nós também não!!!

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